Depoimento: A Trajetória da Farinha de Trigo à Evolução de Bolo

Eu ainda era farinha de trigo, mas sempre sonhava em ser escolhida na prateleira e transformada em algo delicioso. Gostaria sinceramente de ser um bolo, seja qual fosse. O motivo? Bolos são sempre motivo de celebração, festa, confraternização… Bolos são demais!

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Eis que o grande dia chegou e fui levada, junta com outros amigos (leite, açúcar, margarina, ovo e chocolate) por uma mulher calma e com um sorriso lindo!
Ela abriu minha embalagem e eu ouvi quando ela disse:

“Amanhã tem piquenique e vou fazer um bolo de chocolate delicioso!”

Ah, que felicidade! Eu e meus amigos ficamos eufóricos ao escutar a euforia das crianças sobre o bolo. Vocês tem noção de como é sentir-se valorizadx? É muito bom. É espetacular. É sensacional. Não via a hora de estar unida aos outros dentro daquela tigela da batedeira…
Fomos colocados juntos, um a um. Apesar de toda alegria, fiquei meio chateada com o cheiro forte do ovo, a meleca da margarina, o espalhamento do leite, a doçura extrema do açúcar e o estrelismo do chocolate (só porque o bolo teria ele como titular no nome). Mas também percebi que eles estavam incomodados por eu ser adicionada aos pouquinhos, com delicadeza para não esparramar. Enfim, estávamos alí e agora era fazermos o nosso melhor! Como diz o ditado “a união faz o bolo”.
Depois de muito trabalho e superações de estarmos alí por imposição, já eramos um só e fomos despejados numa forma de alumínio bem geladinha, mas sabíamos que o nosso destino agora seria o calor de um forno em temperatura média para que pudéssemos evoluir e alcançar o patamar de bolo. Não nos preocupamos, apesar do risco de sermos queimados, estávamos cientes da boa vontade e amor que aquela mulher usou para nos unir.
Depois de 40 minutos naquele calor infernal, lá estávamos nós, um lindo e grande bolo de chocolate! Agora como bolo, colocado numa travessa e ornamentado com calda e granulados, a sensação era de trabalho cumprido e meta alcançada.

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As crianças gritando “eu quero, eu quero” e aquele orgulho de ser um bolo de chocolate e levar alegria e prazer de alimentar pessoas.
O dia seguinte foi perfeito, piquenique no bosque, sol, alegria, diversão e bolo!

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Tanto as crianças quanto os adultos, adorando confraternizar aquele momento. E escutar aqueles elogios de quanto o bolo estava delicioso, tornava essa evolução ainda mais magnífica!
Hora de ir para casa, ainda sobrou um pouco de bolo, que com todo cuidado foi colocado na cesta para o retorno ao lar. Mas numa freada brusca, a cesta virou e naquele momento lembrei de quando estávamos na batedeira…

O bolo virou, que horror!

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Aquela exclamação me fez voltar a identidade de farinha de trigo, assim como respectivamente todos os meus amigos, já no lar da mulher que nos transformou, sobre a mesa e aqueles olhares de tristeza e desprezo pela aparência não muito boa, adquirida pela tragédia de uma freada. Naquele momento, lembramos e sentimos a mesma sensação das palavras hostis que escutamos no mercado, das vezes que fomos julgados como lixo de consumo, por fazermos mal às pessoas.

•Comida lixo!
•Tem glúten, que triste.
•Veneno para saúde.
•Como ainda vendem isso?
•Prefiro Whey.

De repente a dona do sorriso lindo e mãos de fada que nos escolheu, uniu e levou à evolução disse:

“Não tem problema, continua delicioso! Não vamos tratar como lixo algo tão maravilhoso e saboroso… Continua bolo e sinceramente, ainda tá lindo!”

Todos riram, crianças gritaram “Oba” e mais uma confraternização de momento aconteceu.
O bolo acabou, a lembrança ficou e o momento marcou…

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Assim é a vida. Todos temos uma história, temos alguém que confia em nós e os que não confiam. Temos que nos unir muitas vezes com quem não gostamos para podermos evoluir, lidar com diferentes aspectos de quem convive conosco e escutar hostilidades. Aceitarmos imposições, correr riscos e nos livrar de sermos “tostados”, muitas vezes, pela sociedade. Temos momentos de alegria, felicidade extrema e também de tristezas e tragédias. O importante sempre será dar o melhor de si e nas adversidades, saber e ter ciência que somos únicos e perfeitos ao nosso modo. Mesmo com intervenções de terceiros, somos donxs de nossa vida, mas sabendo reconhecer e ser grato por cada união que nos ajudou em nossa evolução. Aprendemos a contornar tudo e nos valorizar, pois sempre terá alguém que reconhecerá nosso valor, nem que esse alguém sejamos nós mesmos. Isso é viver.

Seja bolo de chocolate.
Seja você.
Seja feliz.

E marque momentos, tornando-se uma lembrança boa para aqueles que saborearem de sua presença!

Até o próximo post…

Beijos!

Publicado em 29 de setembro de 2014, em auto valorização, autoaceitação e marcado como , , . Adicione o link aos favoritos. 3 Comentários.

  1. Linda metáfora!

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  2. Sim,
    Seja bolo de chocolate.
    Seja você.
    Seja feliz.
    😀

    Curtido por 1 pessoa

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